Fui elogiado, vez ou outra (eufemismo: é que não quero ser arrogante, nem insuportavelmente hilariante), pelos meus dotes cômicos. Já tive, também, algumas vezes, minhas habilidades literárias gostosamente louvaminhadas. A todos que me enalteceram (vocês não sabem o monstro que criaram), eu agradeço e admito ter-me sentido lisonjeado. Mas, “homem” de desafios que sou, recentemente percebi uma saliente incongruência: nunca fui capaz de jungir eficazmente as duas perícias que tão frequentemente me são exaltadas: a comicidade e a escrita. É-me doloroso admiti-lo, assim, publicamente... Fere-me particularmente o orgulho expurgar de maneira tão crua a dificuldade que tenho em conciliar duas coisas que, separadas, entendo, mas que, juntas, falham. Tido, também, a umas filosofadinhas cotidianas de tom modesto e pouquíssimo erudito, enfiei na cabeça que era uma espécie de dever descobrir por que isso acontece.
Eis que resultou esse meta-texto, das minhas pseudo-filosofadas. Deveria fingir que foi planejado com muita antecedência (e também que usei minhas filosofadas para alguma coisa que não para mencioná-las e, com elas, habilmente encher linguiça – aptidão da qual não raro me gabo com certa razão) e que os motivos que aqui invento para a comédia nunca ter funcionado comigo são “verdadeiros”. Não são. São de mentirinha, são desculpas, desculpas, não passam de justificadas mal fabricadas por um orgulhoso. De uma forma ou de outra, este veículo eletrônico, desta maravilhosa coisa chamada internet, me serve para que possa externar o que quer que seja que ache relevante. Se bem que “relevante” é uma palavra forte. Talvez um vocábulo de acepção mais precisa para o que quero convir seja “cagável”.
Sim, dói-me admitir que um blog nada mais seja que uma coleção de textos cagáveis. É chato saber disso, e me desculpo a todos os blogueiros por revelar-lhes assim, de maneira tão cruel a Verdade. Mas, olha, a Verdade tem letra maiúscula por uma razão simples: ela vale. Não importa o quão cult você seja, amiga: ninguém quer ler suas poesias, ninguém quer saber do seu fim de semana, ninguém quer ouvir suas opiniões sobre o Agaciel Maia. Okay? As pessoas acabam lendo suas poesias e sabendo do seu fim de semana por que nós, chatos, digo, blogueiros, passamos semanas de nossa vida divulgando o http://urldescolado.blogspot.com para que todas as pessoas que conhecemos possam ler as minúcias inúteis daquilo que não precisamos dizer, mas dizemos exclusivamente porque temos onde dizê-lo.
Tomara que você tenha entendido o que quis dizer. Honestamente, se não entendeu, caguei para você. O melhor que você faz é sair daqui e ir passear de crossfox, francamente.
E a todos os bem-aventurados que chegaram ao quinto parágrafo: meus parabéns, vocês são mais teimosos do que pensava. E inocentes, por acharem que realmente há um pote de ouro coberto por um arco-íris. Não há ouro. Enfim, aos motivos de meu fracasso como autor cômico: não tenho noção de encadeamento de ideias. Não consigo ser aristotélico o suficiente para fazer com que uma ação decorra de outra, necessariamente. Quero dizer:
Maria vai ao mercado e compra melancias. Ao chegar em casa, percebe que deixou uma trilha de pequenas sementes pretas. Sem elas nunca teria achado o caminho de casa.
Honestamente, não consigo achar conexão lógica entre o parágrafo anterior e o pequeno trecho
Outra coisa é a dificuldade que tenho em encontrar meu estilo. No que tange à escrita séria, de gente grande, eu pareço ter encontrado um. Aquela prosa meio simbolista, meio nada com nada. Não sei como vocês aturam (aturam?), pois duvido que entendam o que digo (e mais ponto por subestimar os bravos leitores). Uma hora me sinto com vontade de escrever:
Maria é muito burra.
E, logo em seguida, mudo para:
Maria: pobre ignara!
Entendem? Não tenho um tom, alterno entre casual e pedante num ritmo nauseante, até mesmo para mim. Acho bonito da minha parte admitir, até porque isso não se aplica apenas à minha inabilidade escrito-cômica.
Mas, enfim. Caguei. Cansei do texto. Não deve ter ficado muito bom, está tudo verde e vermelho – ah, esse Word “colorido” –, mas mesmo assim vou postá-lo. Muito porque ele fica de estandarte auto-evidente de minha “tese”. Não, não essa "tese", a ota.