Era inseto e voou entre o verdejante invólucro de paz, sem saber. Voou pequeno e leve e tudo viu com seus mil olhos de destreza e maestria...
Era peixe e nadou nas águas turvas do ódio, sem se aventurar nas algas tolas da ignorância. Nadou na lagoa suja da desarmonia...
Era tartaruga e andou o caminho lento das verdades das paixões, sem entrar no ritmo da falácia dos outros. Andou os passos graciosos da pueril sabedoria...
Era lagarto e rastejou na imensidão e abundância, sem se esquecer das promessas dos falsos profetas. Rastejou na disciplina abnegada e sadia...
Era pássaro e cantou o amor, sem ter conhecimento das coisas do mundo. Cantou com sua voz bonita um assobio de pureza e alegria...
Era camundongo e carcomeu as mentiras, sem digeri-las. Carcomeu as entranhas da calúnia com a rigidez do esmalte da honraria...
Era cervo e saltou nas pradarias secas, sem compreender o medo. Saltou nas finas pernas fortes o taciturno trajeto de valentia...
Era felino e caçou na crástina catástase patológica, sem abrir as cortinas. Caçou as presas certas no êxtase creófilo de valia...
Era símio e subiu nos galhos frágeis do arrependimento, sem se dar conta de seu peso. Subiu em verde sucesso e almoçou a polpa doce de simpatia...
Era mulher e foi, sem perceber. Será um dia...