Seguem dois sonetos de minha autoria.
Retrato
D'ouro efêmero, a alva eternidade,
Louro, helênico, áureo e sincero,
Esculpido, perfeito, quase austero,
Dormente e alheia luminosidade.
Donde duas gêmeas se erguem, colinas,
Hermética paisagem inebriante,
Sente-se Adônis em carícias hialinas,
E Hera feroz em voz e luz, distante.
"São frio e medo, só", a fala rouca.
Meu par de olhos abertos é a sede
Da paúra, meu Caronte, e pouca.
Ele suspira, me fala, me pede,
E sem saber se crê-la sã ou louca,
Atendo, já morto, a Ganimede.
Soneto dos Quinze Minutos
O amor é um embuste carcomido,
Que digerido e podre e vão brinquedo,
Não é que creófilo, tolo medo
Da idiotia e do esperar já exaurido.
Eternidade rasa de veneno!
Odioso alvo pranto, é anelo fundo...
Choroso negro júbilo, é imundo...
Crassa bondade do embasbaco pleno...
É mistifório onusto de penumbra,
De que me advertiu sábio histrião:
Hecatombe que a má esperança obumbra!
Amor: inópia do espírito vão,
Sincero badulaque que retumba,
Última prova viva de estar são!