15 de abril de 2009

Sonetos

Seguem dois sonetos de minha autoria.

Retrato

D'ouro efêmero, a alva eternidade,
Louro, helênico, áureo e sincero,
Esculpido, perfeito, quase austero,
Dormente e alheia luminosidade.

Donde duas gêmeas se erguem, colinas,
Hermética paisagem inebriante,
Sente-se Adônis em carícias hialinas,
E Hera feroz em voz e luz, distante.

"São frio e medo, só", a fala rouca.
Meu par de olhos abertos é a sede
Da paúra, meu Caronte, e pouca.

Ele suspira, me fala, me pede,
E sem saber se crê-la sã ou louca,
Atendo, já morto, a Ganimede.


Soneto dos Quinze Minutos

O amor é um embuste carcomido,
Que digerido e podre e vão brinquedo,
Não é que creófilo, tolo medo
Da idiotia e do esperar já exaurido.

Eternidade rasa de veneno!
Odioso alvo pranto, é anelo fundo...
Choroso negro júbilo, é imundo...
Crassa bondade do embasbaco pleno...

É mistifório onusto de penumbra,
De que me advertiu sábio histrião:
Hecatombe que a má esperança obumbra!

Amor: inópia do espírito vão,
Sincero badulaque que retumba,
Última prova viva de estar são!