Numa manhã ensolarada no primeiro domingo da primavera nasceu a Princesa Raio de Sol, linda como a flor mais bela de todos os campos vastos do reino e talentosa como o cigano mais iluminado de todas as tribos.
Nasceu ouvindo o canto suave dos pássaros e o barulho das ondas da praia mediterrânea, vendo as borboletas amarelas, laranjas, verdes, roxas, multicores que rondavam a cerimônia, sentindo o gosto paradisíaco da melancia, da tangerina, do algodão doce e do chocolate, cheirando o aroma inebriante da maresia e do livro novo, sentindo na pele pêssega a brisa marinha e o ar úmido de alegria.
E o Rei, numa confusão de todas as emoções boas do mundo, tentou falar uma de cada vez e saíram todas de uma vez só. Misturou no nome interjeição e substantivo e deu no que deu. E a mãe, tão feliz e cansada (porque dar à luz anjos é trabalho do capeta!), sorriu exausta e mandou trazer lá das Arábias um mago até a Espanha, que hoje ia ter festa e ia ter mágica!
Trouxeram um feiticeiro de nariz grande que trajava um robe todo verde clarinho e ele disse: “Essa tudo vai poder, tudo vai conseguir!”, e ele não errou. Dançaram, cantaram, fizeram teatros e jogos, fizeram a festa, porque chegara ao mundo a Princesa Raio de Sol.
Cresceu e todo dia enviam dúzias de cestas de frutas tropicais suculentas e divertidas que mandavam trazer das Guinés, da Indochina, da Austrália, do Novo Mundo.
E todo dia enviavam dúzias de artistas cantando e dançando músicas que mandavam fazer senhores de cabelo branco geniais e sacerdotes macumbeiros tresloucados que achavam no mais emaranhado matagal e no mais liso dos desertos.
E todo dia enviavam dúzias de novos vestidos, feitos das sedas do Extremo Oriente, dos linhos das Índias, tingidas com o Pau Brasil do Novo Mundo, ornadas com badulaques coloridos e vibrantes que faziam índias aposentadas com um osso na ponta do nariz!
E todo dia enviavam dúzias de contadores de histórias, irmãos fabulistas e xamãs clarividentes, que narravam histórias sobre deuses, princesas, dragões, anões, mágicos, anéis, terras distantes e raios de luz dourada que faziam tudo virar ouro!
Mas algo faltava! O que falta, Princesa Raio de Sol? Um dia ela caminhava pelo jardim extenso que cercava o palácio onde morava e se deparou com um senhor que ela não sabia como ali havia chegado.
“Como se chama?” Perguntou-lhe, distraindo-se com as flores coloridas, com os pássaros raros, com as nuvens em formato de gato, de catapulta, de cortina, de nuvem.
“Sou Tempo, e vim aqui lhe dar uma ordem!” Mas não era possível. Esse tal Tempo não podia saber com quem estava falando! Ora veja só, se dirigir assim à Princesa Raio de Sol! Mas a Princesa Raio de Sol não achava isso, ela dava atenção a todos, até o mais torto, o mais simples, o menor e mais tímido dos plebeus.
“Que ordem?” Ia perguntar, mas não perguntou. Resguardou-se e pensou um pouco. Quer saber, disse a si mesma, resoluta, não obedeço ao Tempo.
Mas, antes que ela respondesse, ele já vinha falando, todo cheio de marra: eu quero que você isso, aquilo, aquilo outro. Ora bolas. Esse cara só podia estar de brincadeira.
“Faço se quiser, não sou sua escrava!”, respondeu, agitando o dedo majestoso na cara enrugada da ousadia.
“Ai, minha filha, todos são escravos do Tempo, até mesmo você!” Ah, não pode ser. Quem era essa prepotência?
Mas a Princesa Raio de Sol era tão ímpar, tão única, tão singular, tão surpreendente, que disse assim: “Quer saber? Faço o que você mandar, só para provar que posso!”