12 de julho de 2009

Ficção

Você é minha ficção preferida, pois eu te invento sempre que bate um vento e lento ele te leva numa vaga azul e cinza; contrastando com seus cabelos loiros (que não existem), existem seus olhos azuis não tão menos cinzentos que o mar que te arrasta, mas um pouco mais imaginários, e ligeiramente, apenas sutilmente, menos cristalinos. Eu te escrevo com uma naturalidade assustadora, eu te minto, eu te crio a cada vez que você sai de mim, do planeta irreal que eu mantenho dentro de minha cabeça como um jardim lúgubre e plúmbeo, mas quase real, e quase concreto, e seco. E toda vez que você é escrito você ganha uma nova configuração, uma nova realização, e você se torna real por uma fração de segundo tão gostosa que eu evaporo e volto e volto a mentir sua existência e a comemorar sua falsa natividade. Eu construo e reconstruo você, um romance em si próprio, em seu único desenvolvimento, sua trama tão arbitrária, falsa, inverossímil e desnecessária, que você me faz sofrer com sua inexistência, e eu te canto nos cantos lentos dos velhos ventos que eu acalento por você, numa história simples, um lindo clichê sem o qual não vivo.