pouca coisa descreve a angústia da espera.
a espera é uma doença cuja única cura é a chegada.
mas quando não chega, é terminal.
a espera é aguda.
é a agonia de sentar e sentir aos poucos os olhos úmidos, ofuscados pela luz da esperança.
esperança é placebo.
pouca coisa descreve o patético desfecho de uma madrugada na qual se esperou.
pouca coisa descreve a agonia de se dizer que já amou, mas que se teve que esperar.
e o amor não chegou.
nada descreve a dor irremediável da lembrança.
lembrança da espera.
lembrança da esperança.
lembrança do amor que não chegou.
a espera é uma ausência triste, que incha, mas nunca explode.
é um tumor maligno que te toma a vida discretamente.
eu odeio esperar.
e, como amar pressupõe esperar,
odeio amar.
25 de setembro de 2010
Nox
às
19:19
Ó, noite, que escondes?
que sofrer torpe escondes?
se, de sentimentos livre, choras?
Que ato imoral
em tua vastidão impera?
na devassidão e no desvairio
da tua cegueira?
Que lei míope
nas tuas trevas infindas vigora?
que sentimento forasteiro teu
nos compele
e nos faz sucumbir
aos teus desejos escuros
incertos e nebulosos?
Por que tão caprichosa, noite?
que impulso maligno te dá prazer
nos teus encantos
e nas perdições que causas?
Por que tão tortuosos
e labirínticos os teus caminhos?
por que nos enganas, noite?
que sofrer torpe escondes?
se, de sentimentos livre, choras?
Que ato imoral
em tua vastidão impera?
na devassidão e no desvairio
da tua cegueira?
Que lei míope
nas tuas trevas infindas vigora?
que sentimento forasteiro teu
nos compele
e nos faz sucumbir
aos teus desejos escuros
incertos e nebulosos?
Por que tão caprichosa, noite?
que impulso maligno te dá prazer
nos teus encantos
e nas perdições que causas?
Por que tão tortuosos
e labirínticos os teus caminhos?
por que nos enganas, noite?
od tenebra
tenec tenegrem
able grospe piskliei
tandem angre fugturi
mad tenebra
tenec rabarem
able ri vile ssopir
tandem, tandem tenebra!
2 de setembro de 2010
Pronomes
às
23:06
Amou daquela vez como se fosse a última, mas não foi. A menina seguinte era os mesmos problemas, a mesma atazanação de sempre; lágrimas, lágrimas, nada mais que lágrimas perdidas, é uma idiotice amar-se uma última vez, quando sequer se amou a primeira ainda, pensava consigo, enquanto fumava um cigarro caro que lhe complementava o estilo. Nada valia saber nada; a menina não estava interessada no que dizia, e por isso bebia: para esquecer-se da ignorância dela, ou talvez para torna-se tão ignorante quanto. Um vagalume incendiário, era ele, no bar, enquanto bebia e filosofava, em meio a tragos e goles, enquanto a boemia se desfazia flébil e suas esperanças de encontrar um sujeito para si uno se esvaíam. Ele se desmembrava, se fragmentava, enquanto os roma-ro-ma-mah dos maus romances o rodeavam fantasmagoricamente, categoricamente. Ele queria o intangível, mas contentava-se com o momento, pois chegava a uma conclusão, e isso o assustava.
21 de julho de 2010
Sexo
às
19:48
Não há tempo para consequências, há apenas aqueles segundos preciosos entre a catástrofe e o júbilo, entre o toque e a distância eterna. Uma infinitude de senões e apesares os leva e os afasta um do outro, um pulsar imperceptível, como o bater do próprio coração, natural e incontestável. Não há tempo para conjeturas ou hipóteses, há apenas o certo e o errado -- uma afirmação cabal da dualidade do universo, um manifesto maniqueísta: tudo é cinqüenta por cento. E suas mãos conquistavam uma a outra, num contato frio, trêmulo, úmido, uma troca privilegiada de primeiras experiências, a mais pura aquisição de conhecimento, aprendizagem de vida -- a juventude se contrapunha à maturidade do ato, enquanto as mãos traçavam avenidas geladas pelos braços, cotovelos, ombros, pescoços. Não há mais espaço para teorizações pedantes, há apenas o tempo-espaço do toque, da união mais pura, à qual escapa qualquer definição ou descrição -- há apenas a verdade absoluta dos corpos.
27 de maio de 2010
Dileto
às
15:30
a vontade de fingir
me invade
e me participa
e vai aos poucos fugindo
me enganando
trapaceira
escapulida
a estranha vontade de fingir
se torna confissão
um turbilhão
que vem num soluço
sobe a suspiro
e morre palavra
enquanto isso eu nasço
eu me transbordo
e me solidifico
tentando fingir o não-fingir
buscando sentir o consentir
mas sem sucesso
a mórbida vontade de fingir
que me alucina
e me carrega nos seus braços
rijos e frágeis
sem confiança
com dependência
me estrago no ardor da verdade
me derreto
sou arma fundida
de ferro e calor
da quente palavra que engasga
e morre
desgastada
digerida
me invade
e me participa
e vai aos poucos fugindo
me enganando
trapaceira
escapulida
a estranha vontade de fingir
se torna confissão
um turbilhão
que vem num soluço
sobe a suspiro
e morre palavra
enquanto isso eu nasço
eu me transbordo
e me solidifico
tentando fingir o não-fingir
buscando sentir o consentir
mas sem sucesso
a mórbida vontade de fingir
que me alucina
e me carrega nos seus braços
rijos e frágeis
sem confiança
com dependência
me estrago no ardor da verdade
me derreto
sou arma fundida
de ferro e calor
da quente palavra que engasga
e morre
desgastada
digerida